sábado, 15 de agosto de 2015

O Harém de Kadafi - A história real de uma das jovens presas do ditador da Líbia (Annick Cojean)




“Um relato chocante do reino de terror de Muamar Kadafi e uma análise sensível do destino das mulheres vítimas desse sistema.”

Sempre fico navegando em sites de vendas de livros. Vejo as capas, leio as sinopses...(já virou um hobby). E em uma dessas minhas “andanças” virtuais me deparei com este título: O Harém de Kadafi (parei!!!). A história real de uma das jovens presas do ditador da Líbia.
Confesso que tenho uma queda por histórias reais. E ao ler a sinopse, comprei! E posso garantir que não me arrependo.

Contada pela jornalista Annick Cojean a história de Soraya ganha vida. Fere com as verdades reveladas. Revolta o leitor em cada linha escrita, com relatos assustadores e doentios de um homem que erguia a bandeira da moralidade, da liberdade das mulheres. Que fazia discursos a favor da igualdade e repudiava com a sua voz a opressão e submissão das mulheres da Líbia. Um ditador: Muamar Kadafi.

Por trás da imagem de homem “santo”, existia um monstro sedento por sexo. Que era capaz das maiores atrocidades para realizar seus devaneios e saciar seu prazer.

"Em momento nenhum duvidei do que ela me contava. Porque histórias muito semelhantes chegavam até mim, provando a existência de muitas outras Sorayas. Fiquei sabendo que centenas de jovens haviam sido raptadas por uma hora, uma noite, uma semana ou um ano e coagidas pela força ou por chantagem a se submeter às fantasias e violências sexuais de Kadafi."

Soraya conta detalhes dos momentos vividos enclausurada em uma das casas-sedes de Kadafi, o guia ou papai Muamar como gostava de ser chamado. Junto de tantas outras mulheres e homens, ela passa a fazer parte de um mundo obscuro no qual desejar a morte era uma salvação.

Eram obrigadas a fingir serem apenas suas guardas-costas, o acompanhando em várias viagens internacionais. Fingir estarem felizes por terem sido escolhidas pelo Guia para fazer parte de sua tropa.

"- Vocês não são militares, mas devem agir como se fossem realmente encarregadas da segurança do Guia. Coloquem-se na pele de verdadeiras guarda-costas. Façam ar de seriedade, atentas a tudo que está em volta."

Aos olhos do povo ele era aclamado quase como um deus, mas seu lado violento e doentio era desconhecido.

Soraya muitas vezes viu belas mulheres com Kadafi. Esposas de políticos influentes, filhas de chefes de estado, modelos consagradas, atrizes, embaixatrizes, presidentas de delegações. Kadafi pagava. Altas somas em dinheiro, jóias, viagens e tantos outros presentes, só para ter seu prazer realizado.

"Diversas esposas rapidamente compreenderam que poderiam conseguir qualquer coisa com o Guia, e muitas não se faziam de rogadas quando se tratava de solicitar um encontro com ele, indo elas próprias buscar ajuda financeira para um hospital, fundação ou qualquer outro projeto de seu agrado. Ele distribuía dinheiro a seu bel-prazer e fazia o possível para conseguir seu objeto de desejo."

Depois de 42 anos de poder, Muamar Kadafi ainda provoca medo em muitas mulheres vítimas de suas barbáries. Esse escândalo ainda é um tabu na Líbia, mesmo depois de ser capturado e morto. Um país que considera o estupro um dos piores crimes, mas que vive em um sistema que se apoia nele como arma de terror. Um país onde governantes e os familiares de suas próprias vitimas preferem fechar os olhos e os ouvidos para as atrocidades vividas por mulheres, como suas esposas, filhas, sobrinhas e primas, que lutam pelo direito de serem ouvidas. Que lutam pelo direito de serem livres. Que lutam á procura de uma sociedade que não queira simplesmente jogar seus relatos vividos pra debaixo do tapete, e fingir que nada aconteceu. 

"O testemunho de Soraya é corajoso e deve ser lido como documento. O relato todo foi ditado por ela. Ela conta bem, tem uma excelente memória. Não suporta a ideia de uma conspiração do silêncio. Mas a verdade é que jamais haverá uma corte penal a lhe fazer justiça. Talvez até mesmo a Líbia jamais venha a reconhecer o sofrimento das "presas" de Muamar Kadafi e de um sistema criado à sua imagem. No entanto, ao menos existirá seu testemunho para provar que, enquanto ele se pavoneava na ONU com ares de dono do mundo, enquanto outras nações lhe estendiam o tapete vermelho e o recebiam com fanfarra, enquanto suas amazonas eram objeto de curiosidade, fascínio ou diversão, em sua casa, na ampla residencia de Bab al-Azizia, ou em seus porões úmidos, Muamar Kadafi mantinha jovens cativas que, ao chegar ali, não passavam de crianças."


2 comentários:

  1. A leitura de 'O Harém de Kadafi" demonstra o quanto, ainda hoje, existem sociedades retrogradas.
    Além de humilhadas e sexualmente usadas as vítimas de Kadafi sequer podem se manifestar e buscar uma reparação, pois além de vítimas ainda são consideradas culpadas.
    Vale a pena a leitura.

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  2. É... infelizmente ainda vemos isso acontecer em vários lugares, mulheres sendo humilhadas, aprisionadas, sofrendo vários tipos de atrocidades, por aqueles que dizem ser os "defensores", torço para que outras Sorayas tenham coragem e meios de se libertarem. Não li o livros, mas como gosto de ler histórias reais, vou acrescentar a minha lista. ronida_sindi@hotmail.com

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