RESENHA: Senhora - José de Alencar

"Aurélia parou de repente. Uma onda de rubor banhou-lhe o rosto mimoso. Atalhada no ímpeto da paixão por um assomo de pudor, ela confrangeu-se como uma flor da noite ao raiar da luz...

... Duas rosas se embalam cada uma em sua haste à aragem da tarde; inclinam de leve o cálice e frisam-se roçando às pétalas. Assim tocaram-se as frontes de Aurélia e Fernando, e os lábios de ambos afloraram-se no sutil perpasse..."

Sempre quis ler este livro, mas sempre me faltava a oportunidade, e também porque ainda não o tinha.

Um belo dia, indo para um dos eventos literários, passei por uma "máquina de livros" e comprei meu tão esperado Senhora.
Pra quem não mora em SP, vou explicar: Em algumas estações do metro de SP, tem umas maquinas (tipo aquelas de refrigerante e salgadinhos) que você deposita um valor (você escolhe quanto quer pagar) e o livro que se escolheu cai no compartimento da máquina. Aí é só degustar a leitura. Eu amei.

Senhora de José de Alencar foi escrito em 1875. Um romance urbano, onde o autor mostra uma sociedade cheia de moralismo, conservadora e materialista. Tudo se passa na época do Segundo Império da sociedade fluminense. Um romance dividido em quatro partes (capítulos): Preço, Quitação, Posse e Resgate.

Aurélia Camargo é filha de uma pobre costureira e órfã de pai. Com uma vida muito difícil, sua mãe deseja que ela arranje um bom casamento com um homem de posses, que possa dar a Aurélia uma vida confortável e uma família, para que quando ela partir, não tenha que ficar sozinha no mundo. A moça não se agrada muito deste fato, mas para não contrariar a mãe, acaba se "mostrando" na janela durante as tardes (era costume da época as moças solteiras ficarem na janela de suas casas para serem vistas pelos rapazes, e assim conseguir um partido, tudo muito honrado).

Aurélia sem perceber, se apaixona por Fernando Seixas. Um rapaz muito bonito, pobre, educado, bem visto pela sociedade (pois escondia a pobreza), mas muito ambicioso.

Depois de algum tempo frequentando a casa de Aurélia, ele desfaz a relação, movido pela vontade de se casar com uma moça rica. Começa então a namorar Adelaide Amaral, apenas de olho em seu dote (as moças ao se casarem, tinham que oferecer um valor ao marido, e este aceitava ou não se casar, se o dote lhe agradasse ao bolso). 

Passado algum tempo, Aurélia, fica órfã de mãe também, mas acaba recebendo uma grande herança do avô paterno, que na época do pai ainda vivo, desprezou a neta e a nora, mas que se arrependeu depois da morte do filho, deixando toda a sua fortuna para Aurélia. 

Com todo o dinheiro que possuía, Aurélia passa a ser socialmente bem-quista por todos. Era sempre uma figura de destaque nas festas da sociedade. Mas, mesmo sendo rica, Aurélia se destacava principalmente pela sua beleza, sua maneira de agir e de pensar. Opunha-se a algumas regras determinadas pela sociedade que não lhe agradavam. Aurélia a todos podia dominar e tinha tudo o queria ter. Era corajosa, educada, delicada, elegante, inteligente e bem informada. Mas a característica mais importante, era a frieza, auto-controle e domínio que tinha sobre as pessoas. Onde falava o que pensava, doesse a quem doesse, mas era muito amiga dos amigos.

Mas o tempo e o poder não conseguiram apagar a dor de um amor perdido. A tristeza de ter sido trocada por uns poucos vinténs pelo homem que ela amava.

Dividida entre o amor e o orgulho ferido, ela encarrega Lemos, seu tutor e tio, a negociar seu casamento com Fernando por um dote de cem contos de réis. O acordo incluía como cláusula, o segredo da identidade da noiva por parte do contratado até as vésperas do casamento.

Ao descobrir que sua noiva é Aurélia, Fernando fica muito feliz, pois, na verdade, nunca deixou de amá-la, mesmo tendo a deixado. Mas Aurélia, deixa bem claro após o casamento que para ela, Fernando não passa de uma compra, de um marido que agora terá que apenas interpretar bem seu papel diante da sociedade.

A bela senhora mesmo amando Fernando, faz com que ele ache que é apenas um marido social. Destratando-o com seu sarcasmo e ofensas, dormindo em quartos separados, e criticando-o por ter se deixado comprar por cem contos de reis.

Aurélia não acredita no amor que Fernando jura ter por ela, e assim se segue um relacionamento conturbado...

Confesso que é um pouquinho difícil entender as palavras da época escritas pelo autor, mas nada que tire a beleza da história. Um romance onde o amor terá que falar mais alto do que as dores marcadas em corações feridos pela ambição.

Se tiverem a oportunidade, leiam e me contem o que acharam deste belo romance.
E se alguém já leu, o que acharam?

Até a próxima! ^.^